Que o início dos anos 40 em Natal foi bastante interessante eu já sabia, mas essa apresentação teatral de mais de um século ultrapassa os limites do curioso.
1. Era uma Natal onde existiam mais cata-ventos para retirar água dos poços artesianos, do que automóveis circulando pelas ruas esburacadas.

Imagina só isso como era isso!
2. E o bairro Barro Vermelho era uma “antiga área de sítios, casas de veraneio, longe do mar e da mata, onde aconteceram festas memoráveis e maravilhosas festas juninas”

Foi o que disse o historiador e poeta Luís da Câmara Cascudo na página 257 do seu livro “História da cidade do Natal” (3ª Ed. Natal, 1999).
3. Um destes sítios pertencia ao Vigário Bartolomeu Fagundes de Vasconcelos, conhecido como padre Memeuzinho. Homem da maçonaria que gostava das artes, e que abriu as portas de sua propriedade para que em 25 de Dezembro de 1886, ali ocorresse as primeiras apresentações teatrais

Imagina que atitude memorável a deste homem para o cenário cultural da cidade!
4. Devido aos preconceitos e as regras sociais da época, nenhuma jovem natalense aceitou o convite de fazer parte do grupo teatral e coube a um jovem ator de seus 17 ou 18 anos, chamado Joaquim Lourival, fazer o papel de uma protagonista da peça

Lourival era conhecido na pequena Natal por ser um homem que tinha uma memória prodigiosa, que lhe proporcionava um vasto e profundo conhecimento dos costumes de outrora, que via o presente como um fardo insuportável e que tinha nas recordações do passado um dos consolos da vida. Joaquim Lourival vivia no final da poeirenta Rua dos Tocos, atual Avenida Princesa Isabel, já nas proximidades da igualmente contemporânea Avenida Deodoro.
5. Era a primeira tentativa de se fazer teatro ao ar livre em Natal
E estava-se aproveitando a noite de lua clara. Muitos colaboraram com candeeiros para iluminar o local.
6. A apresentação trouxe uma grande multidão, que para o jovem ator Lourival deixou o perímetro da cidade “sem ninguém”
O dia 25 de Dezembro de 1868 caiu em um sábado, o governador da época e Presidente da Província, Manuel José Marinho da Cunha, havia tomado posse do cargo a menos de dois meses e se fez presente com todos os seus apoiadores da época.
7. A Guerra do Paraguai estava no seu quarto ano, e potiguares ou morriam por lá ou ficavam aleijados em terras distantes
Para aliviar o fardo da saudade nada melhor para os familiares do que assistir na noite de Natal à um belo trabalho teatral, de forma coletiva e democrática.
8. Aparentemente foram deixadas de lado as provincianas diferenças de classe existentes na pequena Natal
E todos que ali estavam aproveitaram muito aquela noite.
9. Era alta madrugada quando o espetáculo terminou
Foram soltos balões e disparados vários fogos de artifício.
10. E sabe quem conta essa história? O próprio Lourival.
O ator Joaquim Lourival Soares da Câmara, que era também conhecido como Professor Panqueca, foi um grande informante de Cascudo e de outros pesquisadores da Natal antiga.
Pessoas como ele merecem todo nosso respeito e admiração. Principalmente por não deixarem a história morrer e democratizarem esta informação junto aos mais jovens que valorizam o conhecimento do passado.
Que noite mágica ein! E pra quem não sabe depois disso a cena cinematográfica do RN chegou à esse ponto aqui.
Fonte: Tok de História
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