Há muito tempo queria falar desse local, eis a oportunidade!
Era uma vez, em Natal, RN, um empreendimento tão incrível que parecia ter saído diretamente de um sonho hippie dos anos 60. O Hippie Drive-in foi um lugar de 40 mil metros quadrados de pura diversão para todas as idades, desafiando o tempo ao misturar bares, restaurantes, boates, parque de diversão, zoológico e até um drive-in para casais apaixonados trocarem carícias dentro de seus carros.
O engenheiro civil e escritor José Narcelio Marques Sousa testemunhou e explica que o Hippie Drive-in era uma atração única, com muitas opções de lazer. Durante o dia, as famílias se divertiam no parque, que tinha uma roda-gigante e quiosques vendendo guloseimas e petiscos como “baganas”. Havia também o zoológico, o primeiro e único de Natal, onde viviam diversas espécies de animais, como onças-pintadas, tamanduás-bandeira, antas, cotias, porcos-espinhos, urubus-rei, faisões e outras aves exóticas.

À noite, o Hippie se transformava em uma festa sem fim. As boates eram o ponto alto do lugar, com duas opções: uma ao ar livre e outra “reservada”. O que realmente fazia sucesso era a luz negra, a primeira da cidade, com um efeito estroboscópico que levava todos para a pista de dança. O drink da noite era o gim com água tônica, que brilhava na luz.
Segundo descreve o engenheiro, as garotas desinibidas que dançavam com roupas íntimas brancas eram as estrelas da noite. Graças à luz negra, seus sutiãs e calcinhas ficavam evidenciados, deixando as curvas do corpo bem delineadas e causando o efeito sensual almejado por elas. Os garçons do local eram em sua maioria homossexuais, numa época em que havia muito preconceito da sociedade – o que os tornava retraídos mesmo num ambiente inclusivo.

Narcelio relembra que o Hippie Drive-in não era apenas uma boate, mas um lugar que oferecia iguarias desconhecidas do paladar local, como escargot e caviar, e bebidas como tequila e cervejas importadas de 15 marcas e 8 países diferentes. Se você quisesse levar uma lembrança para casa, poderia, digamos, “roubar”, um item que já estava lá com a intenção de ser subtraído: um pires pintado à mão pela artista plástica Lourdes Guilherme onde estava escrito: “Este eu roubei do Hippie Drive-in”.
O complexo chegou a acomodar 1.800 pessoas de uma só vez e era comum ver excursões de Pernambuco e da Paraíba chegando por lá, já que não existia nada parecido no Nordeste na época. E de quem foi a ideia? Do empresário Luís Carlos Abbott Galvão, que se inspirou em algo semelhante que viu na cidade do México, um local que não cobrava entrada, mas exigia consumação.

O escritor explica que apesar do sucesso e da inovação do Hippie Drive-in, ele acabou fechando as portas em 1974 devido à concorrência na região e ao sucesso de outro empreendimento do empresário, o “Kazarão”, localizado na Avenida Campos Sales.
Mesmo após o fechamento, o Hippie Drive-in é lembrado até hoje como um ícone da boemia e da cultura natalense. Para muitos, ele representou um momento único de descontração, diversão e inclusão na história da cidade. Alguns ainda guardam lembranças e objetos que “roubaram” do local como uma forma de manter viva a memória do empreendimento.

É isso meus amigos, o Hippie Drive-in foi realmente um local mágico e inovador para a época. Um lugar que marcou a história da cidade de Natal, sendo lembrado até hoje como um ícone da cultura e da boemia local.
Texto transcrito da publicação do engenheiro civil e escritor José Narcelio Marques Sousa. Nossos agradecimentos por esta lembrança bem escrita e peça nostálgica e valiosa para a cultura potiguar.
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1 Comentário
Rogerio
(14 de março de 2022 - 20:07)Procuro um certo Luiz Carlos Galvão de Campos, que era proprietario da sorveteria Oasis entre 1960 e 1966, aproximadamente.
Rogerio
Vila Velha – ES