Dançar Rock’n Roll já foi algo proibido por lei em Natal

Durante a 2ª Guerra Mundial a cidade de Natal sofreu muitas transformações no seu cotidiano.

A presença constante de tropas americanas pra lá e pra cá pela cidade traziam novos estilos de roupas, de músicas, de comportamento, e até de alimentos como a Coca-cola e o chiclete, nunca antes vistos de perto na pequena capital do RN.

Mas das várias coisas vindas da terra do tio Sam que foram incorporados ao dia-a-dia dos jovens natalenses, uma delas foi extremamente censurada: o Rock’n Roll.

O estilo musical seduzia todos os adolescentes, mas os adultos o tornaram algo totalmente proibido em Natal.

Tudo começou quando o filme Ao Balanço das Horas começou a ser exibido no Brasil

O filme americano “Rock Around the Clock”, chamado no Brasil de “Ao Balanço das Horas”, trazia na sua trilha sonora um “novo” estilo chamado Rock and Roll, e causou um tumulto em São Paulo quando estreou em 20 de Dezembro de 1956.

Ao Balanço das Horas já havia gerado confusões na Europa e Estados Unidos, com jovens dançando, batendo os pés, quebrando cadeiras e gritando durante a sessão. As notícias dos conflitos era o assunto do momento na época entre os jovens em Natal.

Natal esta que já até tinha várias Lambrettas

Filhos da elite natalense já usavam um dos símbolos do Rock mostrados nos filmes: a Lambretta, uma pequena motoneta de origem italiana, e ela era muito vendida na cidade.

Os jovens circulavam com suas motocas em grupos, usando casacos de couro preto, sempre sem capacete e exagerando nas brilhantinas dos cabelos.

Eles se reuniam ao redor do Grande Ponto, no centro da cidade, onde passeavam com seus canos de escape abertos, fazendo questão de produzir muito barulho.

E foi justamente o barulho o problema com “o tal do Rock”

Anúncio de jornal da época

Para uma sociedade provinciana e extremamente conservadora, todo aquele comportamento da turma da Lambretta incomodou.

Alguns membros da elite local ficaram ainda mais incomodados quando descobriram que seus próprios filhos estavam escutando uma música tão barulhenta quanto as suas motonetas.

Mas o pessoal não ligou, e organizou até um evento

Em Março de 1957 os jornais da cidade informaram com letras garrafais que supostamente estaria sendo organizado pelos “Lambretistas” natalenses uma apresentação de Rock’n Roll lá mesmo no mesmo Grande Ponto.

Mas o Secretário de Segurança da época informou que não havia alvará para tal, e que se insistissem policiais estariam esperando os participantes, ou em suas palavras: “não permitiria que se introduzisse em nossa terra uma dança tão prejudicial aos bons costumes como o Rock and roll” (Diário de Natal, Ed. de 8/3/1957).

Então, pra bom entendedor, curtir um Rock’n Roll em Natal em 1957 só em casa

Avenida Deodoro da Fonseca, Natal, anos 60 (Foto: Potiguarte)

O Rock virou algo que ficou restrito ao ambiente privado, principalmente aos bairros de Tirol e Petrópolis.

Aí já começou aquela velha resistência…

Surgiu daí um anúncio na cidade de que estaria sendo organizado outro evento, desta vez o “1° Festival de Rock and Roll”, que prometia “demonstrar o real valor da música difundida por Elvis Presley”. E este aconteceu, e foi realizado nos salões do América Futebol Clube, no bairro de Petrópolis.

E a velha reação de algumas autoridades

A reação subsequente das autoridades para frear a “garotada rebelde” foi um choque. O juiz titular da Vara de Menores, o Dr. Oscar Homem de Siqueira, baixou no dia 15 de junho de 1957, uma portaria determinando que fosse proibida a entrada de menores nas festas de Rock and Roll em Natal.

Na prática o Dr. Oscar proibiu o público alvo quase todo de participar, pois nessa época eram considerados menores de idade aqueles que tinham menos de 21 anos.

Além de frequentar os locais com Rock, os jovens também foram proibidos de DANÇAR

Como se fosse pouco não poder mais ir ou permanecer nos locais onde tocassem Rock and Roll, o juiz ordenou que ninguém mais dançasse Rock, pois isso não só destruía a inocência e o puder dos jovens, como também gerava violência e obscenidade”. (Diário de Natal, Ed. de 18/6/1957).

Porém nem todo mundo pensava como o Juiz

1950’s Swing Dancers

E finalmente o filme passou na cidade; e ela aos poucos foi perdendo a imagem negativa do estilo musical.

Teve Miss Mundo visitando e dançando, rádio tocando diariamente, gente escutando no tempo livre, e mais tarde surgiram várias bandas de rock potiguares!

Que bom que a mentalidade das pessoas mudam, né? Feliz Dia do Rock!

Fonte: Tok De História

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Fernando Alves

Fernando é um natalense de 35 anos. Adora cerveja,comida e praia e por ser capaz de ter centenas de idéias em apenas 24h de um dia ele é uma espécie de guru do Curiozzzo, fornecendo pra o blog sempre que pode dicas valiosas. Todos que o conhecem tem quase certeza de que ele é na verdade um mutante.

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